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Lembranças de um Policial Militar

 Lembro-me de quando eu trabalhava como se fosse o último serviço da minha vida. Da dedicação incondicional ao trabalho. De quando procurava em cada canto da cidade, bandidos a pé, de carro, de bicicleta, em ônibus, nas ruas, nos becos, dentro das lojas, sozinhos ou em grupo. Lembro-me de quando me sentia um herói querendo salvar o mundo. De quando fazia abordagens, incansavelmente, à procura de criminosos.
 De quando dirigia em alta velocidade, colocando minha vida em risco, para chegar aos locais de crimes antes que os bandidos fugissem. De quando perseguia, também em alta velocidade, veículos em fuga contando com a combinação de habilidade, sorte e ajuda divina para obter êxito. De quando desafiava os limites da lei, entrando em casas, lotes e estabelecimentos comerciais, certo do sucesso na busca por meliantes em flagrante delito. De quando apreendia quilos de drogas, dando um bom prejuízo ao tráfico. De quando prendia os criminosos e procurava incansavelmente os objetos do roubo, as armas e os outros envolvidos na ação. Lembro-me de quando gastava meu dinheiro em equipamentos modernos, os quais a Polícia nunca me disponibilizou.

 De quando gastava créditos do meu celular, entrevistando possíveis vítimas de um suspeito abordado. De quando meu único trabalho eram vinte, de psicólogo e fiscal de trânsito a especialista em animais silvestres. Lembro-me da satisfação pessoal em autuar um bandido para que ele pagasse pelos seus crimes. Lembro-me do quanto sentia orgulho ao ser elogiado pessoalmente e na minha ficha individual. Da alegria em ver a cobertura feita pelas emissoras de televisão das nossas ocorrências bem sucedidas. Da satisfação em ver uma vítima ter os seus pertences de volta, mesmo sem receber um “obrigado”. Da sensação do dever cumprido. Lembro-me de quando eu fazia muito mais do que deveria fazer. De um dia acreditar que seríamos devidamente valorizados. E ainda, de quando tartaruga era apenas um bicho.

Fernando Moreira.




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5 comentários

  1. Colocar um policial nas ruas n-a quer dizer que ele vai trabalhar! Policial sem motivaçao perde esse referencial que é de cada um.

    Lembranças de um policial militar

    Lembro-me de quando eu trabalhava como se fosse o último serviço da minha vida. Da dedicação incondicional ao trabalho. De quando procurava em cada canto da cidade, bandidos a pé, de carro, de bicicleta, em ônibus, nas ruas, nos becos, dentro das lojas, sozinhos ou em grupo. Lembro-me de quando me sentia um herói querendo salvar o mundo. De quando fazia abordagens, incansavelmente, à procura de criminosos. De quando dirigia em alta velocidade, colocando minha vida em risco, para chegar aos locais de crimes antes que os bandidos fugissem. De quando perseguia, também em alta velocidade, veículos em fuga contando com a combinação de habilidade, sorte e ajuda divina para obter êxito. De quando desafiava os limites da lei, entrando em casas, lotes e estabelecimentos comerciais, certo do sucesso na busca por meliantes em flagrante delito. De quando apreendia quilos de drogas, dando um bom prejuízo ao tráfico. De quando prendia os criminosos e procurava incansavelmente os objetos do roubo, as armas e os outros envolvidos na ação. Lembro-me de quando gastava meu dinheiro em equipamentos modernos, os quais a Polícia nunca me disponibilizou. De quando gastava créditos do meu celular, entrevistando possíveis vítimas de um suspeito abordado. De quando meu único trabalho eram vinte, de psicólogo e fiscal de trânsito a especialista em animais silvestres. Lembro-me da satisfação pessoal em autuar um bandido para que ele pagasse pelos seus crimes. Lembro-me do quanto sentia orgulho ao ser elogiado pessoalmente e na minha ficha individual. Da alegria em ver a cobertura feita pelas emissoras de televisão das nossas ocorrências bem sucedidas. Da satisfação em ver uma vítima em ter os seus pertences de volta, mesmo sem receber um “obrigado”. Da sensação do dever cumprido. Lembro-me de quando eu fazia muito mais do que deveria fazer. De um dia acreditar que seríamos devidamente valorizados. E ainda, de quando tartaruga era apenas um bicho.

    Fernando Moreira

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  3. Ótimo texto!!! Eu nem lembro mais de quando eu era esse policial....

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  4. Que lembrança; quantos cassetetes e depois tonfa quebrei nas costas, canela de peba e não era reconhecido como tortura e sim como respeitar o ser humano e nunca mais estes pebas iriam aprontar por que o pm estava ali para ensinar o lado do bem , e ser bandido tem vida curta. ASS: 12.000 indo em bora em breve, contando com LE falta pouco vou usa-las para ter vida digna.

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  5. Entrei em 2003 e até 2010 fui assim, e agora estou nessa DEPRESSÃO POLICIAL, preciso de remédio, preciso de promessas realizadas. E podem acreditar não é só DINHEIRO que vai me curar. Preciso do básico, de leis que me valorize, coisas que curam a alma policial.

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