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Servidor público fica sem gasolina e recebe ajuda de morador de rua no DF


'Dei R$10, fiquei com medo dele não voltar e ir embora com o dinheiro. Mas ele me surpreendeu', diz fotógrafo

Servidor público de Brasília, Vagner Carvalho recebeu ajuda de um morador de rua quando ficou sem gasolina durante um protesto no Eixo Monumental 

Vagner Carvalho é um dos 3 milhões de moradores do Distrito Federal. Ele trabalha na Esplanada dos Ministérios e nesta quinta-feira (26) ficou preso no trânsito durante um protesto de índios que fecharam o Eixo Monumental. De tanto dar voltas para tentar fugir do congestionamento, Carvalho – que havia deixado para encher o tanque de combustível mais tarde – acabou sem gasolina.

Com o carro parado no meio da rua e um congestionamento de mais de 2 km, o fotógrafo diz que não sabia o que fazer quando um morador de rua se aproximou e ofereceu ajuda. Carvalho lembra que tinha duas opções: deixar o carro com essa pessoa em situação de rua ou dar dinheiro a ele para buscar gasolina.

"Dei R$10, fiquei com medo dele não voltar e ir embora com o dinheiro. Mas ele me surpreendeu."

A espera pelo combustível parecia não ter fim. Carvalho confessa que já estava perdendo a esperança de ver o desconhecido voltar com o combustível. "Era uma piada pronta, ainda mais em Brasília", brinca ele. Mas, sem alternativa, o fotógrafo precisava acreditar no homem que nunca tinha visto antes.

Ele admite que chegou a pensar em alternativas, como chamar um guincho, pedir um carro por aplicativo, ligar para algum amigo, mas não via solução. Qualquer forma de ajuda demoraria muito a chegar por causa do protesto que parou a região central de Brasília.

Entre um pensamento e outro, Carvalho diz que olhou de novo para o trecho onde o desconhecido havia fugido do campo de visão. Foi quando enxergou o homem voltando com a gasolina.

O morador de rua demorou, mas voltou com o combustível e a nota fiscal da compra. Para Carvalho – que fez aniversário nesta quinta – uma lição e tanto. "Nunca o vi, por acaso do destino eu passei por lá. Eu estava fugindo da passeata dos índios e tentando chegar na Esplanada."

O servidor público conta que descobriu apenas o primeiro nome do homem que o ajudou, Geraldo. "Ele é muito agoniado e queria ajudar de qualquer forma, mas queria logo. Parecia que ele tava com pressa pra ajudar".

"Só sei que ele fica no Eixão, na altura da 102, próximo ao retorno."

Geraldo, um morador de rua de Brasília comprou gasolina para um servidor público que ficou com o carro parado no meio da rua durante um protesto

Carvalho acabou dividindo a história com os amigos, pelas redes sociais. Nesta sexta (27), ele recolheu doações de roupas e alimentos para Geraldo. "Depois de tudo o que vivemos e acompanhamos nos noticiários todos os dias sobre as prisões, malas e apartamento cheios de dinheiro, muita gente ainda solta e sem nenhum tipo de punição, a gente acaba desacreditando", diz o fotógrafo.

"Sempre achamos que alguém vai nos levar algo, principalmente um morador de rua. Mas a atitude de honestidade do Geraldo veio pra mostrar pra mim e pra todos que leram meu relato que temos que acreditar no próximo, independente do terno ou do pé descalço."


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