Deputado da TV: Fred Linhares faz propaganda do reajuste, sua atuação parlamentar segue em silêncio
O deputado federal Fred Linhares (Republicanos-DF) correu para comemorar nas redes e em seu programa de TV a aprovação do PLN 31, que abre espaço orçamentário para o reajuste das forças de segurança do DF e para a nomeação de cerca de 2 mil novos policiais. No discurso oficial, ele se apresenta como protagonista da conquista. Mas, na prática, a pergunta que fica é: onde está esse mesmo entusiasmo na rotina parlamentar em Brasília?
Porque, quando o assunto não é câmera ligada e holofote do próprio programa de televisão, o deputado é frequentemente cobrado justamente pela sua ausência no dia a dia do mandato: pouca presença em debates centrais, escassa participação em comissões e quase nenhuma liderança concreta nas negociações mais duras em defesa da segurança pública.
Na matéria original, Fred Linhares exalta o “esforço incessante de articulação política” e festeja a aprovação do PLN 31 como se fosse um feito pessoal:
“Esse é o fruto de um esforço incessante de articulação política que realizamos junto aos líderes e colegas...”
O problema é que esse discurso contrasta com a imagem que circula nos bastidores: um deputado muito mais dedicado à manutenção de sua vitrine midiática – seu programa de TV – do que ao trabalho silencioso, técnico e cansativo que qualquer parlamentar sério precisa enfrentar em comissões, reuniões, audiências e construção de texto legislativo.
Enquanto o servidor de base enfrenta plantão, escala estourada, colete surrado e viatura sucateada, o deputado aparece polido em estúdio, vendendo uma narrativa de “herói da segurança” que não se sustenta quando se olha para sua atuação concreta no Congresso
Autorização para contratação de:
1.284 policiais militares
700 policiais civis
89 bombeiros militares
Mas proposições como o PLN 31 são fruto de um processo muito mais amplo: pressão histórica das corporações, mobilização das categorias, articulação de bancadas inteiras, negociação com o governo federal, Casa Civil, MGI, líderes partidários e relatoria técnica. Não é obra de um único deputado — muito menos de quem mal aparece nas principais frentes de discussão.
Transformar isso em peça de marketing pessoal é, no mínimo, desonesto com os profissionais de segurança que vêm há anos cobrando recomposição, reconhecimento e respeito.
Segurança pública usada como palanque
Ao dizer que a aprovação do projeto significa:
“mais viaturas nas ruas, mais investigações concluídas e, acima de tudo, maior tranquilidade para a população”
o deputado transforma uma etapa orçamentária – importante, mas ainda limitada – em solução mágica para a segurança do DF. Não fala dos atrasos históricos, das perdas acumuladas, das dificuldades na execução orçamentária, nem dos entraves que ainda podem surgir até que reajuste e nomeações sejam plenamente efetivados.
É um discurso perfeito para TV: simples, linear, com um “herói” bem definido. Mas extremamente pobre e superficial para quem leva a sério política pública de segurança.
Mandato ou programa de TV?
O contraste é gritante: enquanto o deputado se dedica a aparecer como comentarista e apresentador, o que se vê é um mandato burocrático, pouco propositivo e muito mais preocupado com narrativa do que com resultado.
Um parlamentar realmente comprometido com a segurança pública estaria à frente dos debates mais duros sobre orçamento da União e vinculação dos recursos da União ao DF, cobraria transparência na execução das nomeações e do reajuste, enfrentaria o governo quando necessário, e não apenas posaria para foto após o trabalho já ter sido construído por outros atores.
Em vez disso, o que se vende ao público é um pacote pronto: “eu lutei, eu articulei, eu conquistei” — embalado em cenário de TV, com enquadramento perfeito e roteiro de autopromoção.
Quem está de plantão de verdade?
Enquanto Fred Linhares “luta” em frente às câmeras, quem de fato está de plantão são:
O policial que dobra turno;
O bombeiro que entra em ocorrência sem estrutura ideal;
O policial civil afogado em inquéritos, sem pessoal suficiente
Usar o reajuste e as nomeações – que são demandas legítimas, antigas e coletivas – como combustível para marketing pessoal, especialmente vindo de um deputado que é constantemente associado à baixa dedicação à atividade parlamentar, é um desrespeito a quem vive a segurança pública na pele.
Reajuste e nomeações são, sim, passos importantes. Mas o DF não precisa de “deputado-apresentador” comemorando em estúdio: precisa de parlamentar presente, combativo, técnico e comprometido, todos os dias, dentro do Congresso – e não apenas quando a luz vermelha da câmera acende.
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